01 set , 1990
SÁB
fora de cena Os Cavaleiros Trigo Limpo teatro ACERT
01 set , 1990
SÁB

fora de cena

Calendarização

01 set
sáb
1990
  (Delfos Stadium Festival de Teatro de Drama Grego Antigo )

Os Cavaleiros

Trigo Limpo teatro ACERT

Espectáculo criado numa situação muito especial – num contacto, na Grécia, o organizador do Festival de Teatro Grego lamentava-se do facto de Portugal não estar representado. Para nossa surpresa, até subsidiavam a montagem e as passagens. De imediato, afirmámos estar para estrear um. Sem subsídio em Portugal, não poderíamos desperdiçar esta hipótese.
Em dois meses, juntam-se trinta actores (o máximo que era pago e permitido pelo regulamento), e inicia-se uma incursão numa dramaturgia até ali quase desconhecida.
Todo o processo de montagem decorre com um ritmo intenso, optando-se por criar um espectáculo contemporâneo, e romper deliberadamente com os conceitos clássicos, por sinal pouco dominados pelo encenador.
A cenografia reflectia uma visão universalista do texto de Aristófanes, e os figurinos conjugavam uma leitura plástica medieval mesclada com equipamentos de futebol. A movimentação seguia os ritmos musicais das falas do coro, sendo o jogo de representação situado numa relação acrobática com o atómium central de grandes dimensões.
A preparação de actores incidiu fortemente no trabalho corporal e de voz, havendo um apurado trabalho de coros e orientação musical.
A música original, bem como as letras criadas para o espectáculo, representavam uma forte aposta artística, sendo de realçar, ainda, que a construção da cenografia significou mais uma valiosa experiência, em termos de arquitectura cenográfica.

Calendarização

01 set
sáb
1990
  (Delfos Stadium Festival de Teatro de Drama Grego Antigo )

Ficha técnica e artística

Estreia: 1 de Setembro 1990
Delfos Stadium, Grécia
Festival de Teatro de Drama Grego Antigo Grécia

Texto: Aristófanes
Adaptação e encenação: José Rui
Adaptação baseada na tradução de Maria de Fátima de Sousa e Silva
Cenografia e adereços: José Tavares, José Rui, Rita Madeira
Figurinos: Ana Saraiva, Lúcia Azevedo
Luz: José Luís Carlos Coimbra, José Manuel Monteiro
Direcção de coros: Eduardo Aurélio
Música / músicos (ao vivo): Carlos Clara Gomes, Eduardo Aurélio, Francisco Reis, José Guerra, Manuel Apolinário
Traduções: Rui Café
Produção: Carla Torres Élio Antunes Luís Carlos Henriques
Apoio de montagem: Joaquim Sobrino
Costureiras: Angelina Elvira
Elenco: Alexandre Ribeiro, Ana Diogo,Ana Saraiva, Carla Torres, Carlos Alcindo, Carlos Silva, Élio Antunes, Gabriela Pinto, Hugo Torres, Isabel Tenreiro, João Pinto, José Marques, José Armando, José Rui, Luis Carlos Henriques, Luis Chaves, Miguel Torres, Mónica Lopes, Nuno Café, Orlando Paraíba, Paulo Ribeiro, Pedro Marques, Raquel Costa e Sandra Moreira.


Excerto do Texto

PAFLAGÓNIO - Ó povo, chega aqui!
SALSICHEIRO – Caramba, tiozinho! Anda lá, meu povinho querido.
PAFLAGÓNIO – Anda cá, vem ver como estou a ser insultado.
POVO – Que gritaria vem a ser esta? Ora fazem o favor de desandar da minha porta!
(reconhece o Paflagónio) Ó Paflagónio, quem te fez mal?
PAFLAGÓNIO – Porque te quero muito, Povo, porque estou doido por ti.
POVO – (volta-se para Salsicheiro) Mas quem és tu afinal?
SALSICHEIRO – Sou rival deste fulano. É uma paixão antiga esta que sinto por ti. Só quero o teu bem…
PAFLAGÓNIO – Pois bem, Povo, convoca já uma assembleia para saberes qual de nós te é mais dedicado, e decide. É a esse que vais dar o teu amor.
SALSICHEIRO – Sim, sim, decide lá, mas que não seja na Pnix.
POVO – Nunca eu me havia de sentar noutro lado. Vamos em frente! Toca a andar para a Pnix.
CORO – Vamos, põe-te em guarda, e antes que ele se atire a ti, iça tu primeiro os golfinhos e encosta a tua barca.
PAFLAGÓNIO – É à deusa Atena, que governa a nossa cidade, que eu faço esta súplica: se me mostrei o melhor servidor do povo (…) que eu possa comer no Pritaneu, como agora, por… não ter feito nada. (Ao povo) Mas se te odeio, se não luto por ti, que um raio me parta, que eu rache ao meio e me faça em tiras.
SALSICHEIRO – Pois quanto a mim, Povo, se te não amo, se te não estremeço, seja eu partido em postas e feito num guisado. E se não acreditas no que te digo, seja eu, em cima desta mesa que aqui vês, amassado com queijo num almofariz e, com um gancho, arrastado pelos tomates para o Ceramico.
PAFLAGÓNIO – Mas onde se havia de desencantar um cidadão que te amasse mais do que eu, Povo? Para começar, quando estava no conselho, arranjei-te grandes somas no erário público, a atormentar uns, a esmagar outros, a reclamar percentagens de outros, sem querer saber de ninguém em particular, desde que fosse para te dar prazer.
SALSICHEIRO – Isso, Povo, é demais. É coisa que também eu posso fazer. Rapino o pão aos outros para to servir a ti. Mas ele não te ama nem te é fiel – e isso é o que te vou provar antes de mais nada, a não ser por uma única razão: para se aquecer à tua lareira. Não é como eu, que te mandei fazer esta almofada. Aqui a tens. Ora levanta-te lá. Senta-te agora bem fofinho, para não gastares essa coisa aí, que andou por Salamina.
PAFLAGÓNIO – É então com essas bajulices saloias que lhe mostras a tua dedica- ção!
SALSICHEIRO – E olha que tu foi com habilidades ainda mais saloias que estas que o levaste à certa.
PAFLAGÓNIO – (ao Povo) Pois bam, aposto a minha cabeça em como nunca apareceu um homem mais empenhado na causa do povo, ou mais amigo do que eu.
SALSICHEIRO– Tu, amigo dele? Como pode ser isso? Um tipo como tu, que vês viver em pipos, buracos e águas furtadas, vai para oito anos, e te ficas marimbando para isso! Depois de o teres encurralado, ainda o chupas por cima. (…)
CORO – (Canta “Que Belo Império o Teu”)

Quero ver-te nua pela madrugada conjurando olhares que as noites consomem. Quero ver-te alegre, linda e descalça, percorrida a eito pelos transeuntes que, com passo lesto, fazem tua história. Não é este o tempo de ficar parado cego, surdo e mudo penando suplícios.
Foram as muralhas da nossa cidade que os outros assaltaram enquanto dormias
Ó povo, que belo império o teu! Todos te receiam como a um rei. Mas és tão fácil de levar…
Gostas de ser engraxado, enganado. Ficas de boca aberta perante os oradores. Essa tua mioleira está aí mas anda longe.
Temas populares portugueses e em originais de Carlos Clara Gomes, director musical do projecto.
Entre as muitas apresentações, de norte a sul do país, destaca-se o êxito obtido no Festival Internacional de Motril (Espanha) e em Delfos (Grécia).
Nas suas apresentações no nordeste do Bra- sil, integrado no projecto Cumplicidades, foi apresentado “De Todas as Raças” com formação ampliada e repertório com novas orquestrações.

Na sua formação passaram vários instrumentistas: Manuel Apolinário, Pedro Rebelo, José Soares, Adelino Soares, Francisco Reis, José Guerra, Luis Lapa, Raul Marquez, José Abreu, Luis Vieira e Castro, Manuel Júlio, Artur Trincheiras, Acácio Salero, tendo sempre como elementos base, Carlos Clara Gomes e José Rui.

excerto do texto “Os Cavaleiros”


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