Circo Filarmónico: quando o palco une malabarismo e música em harmonia

O mês de fevereiro traz à ACERT um espetáculo único. “Circo Filarmónico” é uma coprodução entre a companhia galega Pistacatro e o Novo Ciclo ACERT.

Este inoador espetáculo resulta da fusão entre a tradição das orquestras populares e a destreza circense do malabarismo. É uma fusão artística onde as bandas de música popular se unem aos malabaristas no palco, criando uma experiência única entre música e arte circense que envolve os artistas da Pistacatro e a Orquestra de Sopros com alunos de música do CMAD.

Belém Brandido, produtora da companhia, em entrevista conta-nos um pouco sobre o fascinante universo do Circo Filarmónico e a felicidade que sente em voltar à ACERT, uma casa que considera também sua.

 

 O que é o Circo Filarmónico?

O Circo Filarmónico é uma forma de valorizar as orquestras de música mais tradicionais e populares através do malabarismo e do palhaço do circo. Da parte da Pistacatro, pensamos que o Circo Filarmónico é muito mais do que um espetáculo, é um projeto para as Bandas de Música Popular onde estas deixam de ser meras executantes de partituras para serem parte total em conjunto com os malabaristas do que acontece em palco, tornando-se também atores e o espetáculo é combinado entre artistas circenses e músicos. Foi também um desafio para nós trazer o nosso mundo do circo para a música ao vivo com uma orquestra e tornar a nossa arte visível de outra forma, hibridizando-a com outro mundo como a música. O Circo Filarmónico quer expressar que os diferentes tipos de expressão não estão isolados uns dos outros e que se podem complementar, dando origem a novas formas de expressão.

 

Como se desenvolveu o processo de criação do espetáculo?

O processo de desenvolvimento do espetáculo teve várias fases: a primeira foi a conceção do projeto, em que o grande desafio foi como criar um desenho de trabalho tão detalhado que nos permitisse, num curto espaço de tempo, fazer com que as Bandas de Música, com poucos ensaios, fizessem um espetáculo que parecesse que o fizeram toda a vida, que gostam e que o público gosta. A segunda fase é a criação artística e musical, a cargo do diretor artístico Pablo Reboleiro e do diretor musical Manuel Paino, em que trabalhamos a partir do malabarismo e do clown para montar estes dois mundos. Um ensaio prévio em que os malabaristas atuam como notas musicais e visualizam a partitura que está a ser tocada sem perder de vista o humor que tanto nos caracteriza no Pistacatro. E a terceira fase é a que está relacionada com a atuação em palco, onde o processo de residência e preparação culmina na estreia com a orquestra com que estamos a trabalhar.

 

Como se incorpora o novo circo e música?

A partir do Pistacatro, quisemos de alguma forma valorizar o malabarismo e combiná-lo com a música, porque, de certa forma, eles são a representação visual da própria música, como disse antes, tal como o ballet poderia ser, um ballet visual de malabarismo com o humor e o clown do Pistacatro. Na nossa experiência em palco e do novo circo do Pistacatro, a música ao vivo e a música para contar, para contar histórias do circo e do malabarismo ou de outras disciplinas circenses, têm sempre uma presença muito interessante e constante. A música e o malabarismo não estão ligados como pode parecer, porque ambos dependem do tempo.

 

Qual será o processo de criação com os músicos do CMAD?

Recebem o material musical e visual para trabalhar com o seu diretor musical no tempo que ele considera para estes ensaios. Depois temos um processo de residência de dois dias em que revemos e vemos como estão com os temas musicais e onde trabalhamos todas as partes de representação que têm de desempenhar. Sempre de uma forma didática e divertida, porque a ideia é levá-los da música para o palco de uma forma muito divertida.

 

A residência artística facilita o trabalho entre os malabaristas e os músicos?

É necessário. Caso contrário, o espetáculo não tem sentido. É essencial para montar as ações e para os músicos e malabaristas se juntarem em palco e tocarem juntos. É a forma de transferir a sua emoção e o seu prazer para o público. Esta residência é trabalhada diretamente com o nosso maestro de digressão, com os malabaristas e com toda a orquestra.

 

O que pretende transmitir ao público de Tondela através deste espetáculo?

Emoção, poesia, positivismo, riso... o Circo Filarmónico será um espetáculo diferente, com muita poesia e ao mesmo tempo muita diversão. Um espetáculo cheio de energia que permite ver a combinação destes dois mundos, o circo e a música. E uma forma diferente de ver os músicos locais de Tondela, embora já saibamos que aqui há muita tradição musical e de representação, aqui pensamos que a combinação será realmente nova e a nossa intenção é trazer o público de Tondela para o novo circo de uma forma diferente.

 

Sei que há alguns anos viajou com a ACERT até Moçambique. Como é para si colaborar com a ACERT?

Para mim, que trabalhei com a ACERT e que mantenho uma relação com eles há muitos anos, voltar a casa depois de tantos anos e com este projeto é um desejo realizado. Para nós, na Galiza, a ACERT e o Trigo Limpo são uma referência para o cuidado da Cultura e das Artes Cénicas em Portugal, um modelo a seguir desde há muitos anos, sobretudo pela sua ligação e trabalho constante com o território e os cidadãos da localidade. Por isso, poder fazer parte de um projeto próprio do Pistacatro ou de outros que distribuímos é um orgulho e também uma responsabilidade. Para mim, de certa forma, é como voltar a casa. Uma casa muito ligada à companhia Chévere, à Sala Nasa, à Psicofónica, Fran Pérez Narf, Pepe Sendón, Carlos Santiago, com quem comecei e onde dei os meus primeiros passos em palco e, portanto, para mim é a minha casa. E para o Pistacatro, aterrar em Tondela tem um significado importante, uma vez que a companhia nasceu sob a égide da Sala Nasa e do Chévere. E a Fran, que nos é tão querido, compôs várias bandas sonoras para os espetáculos do Pistacatro. Por isso estamos FELIZES por estarmos em Tondela.