A música angolana das últimas décadas é muito rica em estilos e referências. Como é trabalhar a partir dessa herança, olhando sempre para o futuro?

Olho sempre para o futuro com grande otimismo em relação ao meu trabalho e, atendendo as referências dos anos 60 e 70, pelas quais fui influenciado, devo no entanto dizer que há ainda muito por se fazer dentro do panorama da música de Angola, especificamente na formação, na recolha do conhecimento profundo da música tradicional e também na catalogação do cancioneiro Angolano.

Que referências musicais são mais importantes para si, para o seu trabalho?

Penso que todas as referências são muito importantes, pois vivemos num mundo em que a facilidade do contacto com outras culturas é muito mais evidenciada devido a evolução das novas tecnologias, onde o acesso é permitido a qualquer pessoa. Contudo, sou de opinião de que as primeiras referências, ou as marcas de referência identitária, têm a base de sustentação de tudo quanto eu queira desenvolver na música.

Quando começou a tocar em Portugal, a música angolana e de outras geografias africanas não se ouvia muito fora de um determinado circuito. O público português está hoje mais recetivo à música de origem africana?

O público português não conhecia, ou seja, o regime colonial nunca permitiu que houvesse a divulgação dessas músicas, salvo raras exceções. Apenas os portugueses que viviam nas ex-colónias tiveram a sorte de conhecer. Hoje há uma maior abertura, mas que começou há poucos anos, muito por iniciativa dos próprios africanos, através dos espaços culturais, de lazer e diversão que abriram em Lisboa e que, mais tarde, se multiplicaram por todo o país. Digamos que os portugueses sempre gostaram das músicas de origem africana, não somente as produzidas no continente, mas desde América, Caribe e até mesmo na Europa. Acredito que, timidamente, os portugueses estão a quebrar alguns preconceitos.