SEX fora de cena Transviriato Trigo Limpo teatro ACERT
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Transviriato
“Viriato” ultrapassa,nos objectivos, as anteriores etapas de montagem de teatro de rua de grandes dimensões. A estrutura cenográfica é concebida para, à partida, corresponder à acção teatral e ao espaço para o público.
É na exploração desta relação directa com o público - que exigia dos actores um direccionar de representação totalmente diferente do convencional, já que o espaço em arena a isso obrigava que a criação se estabeleceu.
O texto, escrito especificamente para o grupo, foi testado e adaptado com o autor para, em conjugação com uma partitura musical precisa, funcionar o mais “cinematograficamente” possível.
O prosseguimento do estudo de uma cenografia que possibilitasse a exploração de grandes movimentações, bem como de dispositivos cénicos simples capazes de produzir grandes efeitos teatrais, era uma aposta decisiva.
A conjugação do trabalho de domínio da musicalidade do texto e da confluência entre a veracidade e abstraccionismo cénicos contribuiu para potencializar.
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Ficha técnica e artística
Estreia 29 de Junho de 2001
Pátio da Universidade de Coimbra
Texto Jaime Rocha
Encenação José Rui Martins e Pompeu José
Música Fran Perez
Cenografia José Tavares, Nico Nubiola e Pompeu José
Adereços Lali Canosa, Nico Nubiola e Ruy Malheiro
Figurinos José Rosa
Desenho de luz Luís Viegas
Desenho de som João Paulo Martins
Desenho gráfico José Tavares
Operação técnica João Paulo Martins, Luís Viegas e Paulo Neto
Anotadoras de cena Ilda Teixeira e Maria Simões
Construção e montagem André Cunha, Carlos Jorge Viegas, Cláudia Andrade, Cláudio Vinhanova, Hugo Torres, Ilda Teixeira, João Paulo Martins, Luís Viegas, Miguel Torres, Nico Nubiola, Paulo Leão, Paulo Neto, Pompeu José, Rui Ribeiro, Ruy Malheiro e Sílvio Neves
Execução de figurinos Felicidade Café
Fotografia Carlos Teles e Paulo Leão
Carpintaria Sílvio Neves
Serralharia Rui Ribeiro
Secretariado e produção Carla Torres, Maria Simões e Marta Costa
Estudo 3D Tony Rebelo
Elenco Bernardo Mendonça, Carla Torres, Cláudia Andrade, Gil Rodrigues, Hugo Torres, Ilda Teixeira, Jorge Oliveira, José Rosa, José Rui Martins, Maria Miguel Almiro, Maria Simões, Marta Silva, Miguel Torres, Nuno Ramos, Pompeu José, Ruy Malheiro e Teresa Ferreira
Músicos Carlos Peninha, Fran Perez, Quiné, Miguel Cardoso, Pepe Sendón e Suzo Alonso
Actores locais Adriana Venturae Ana Cristina Freiree Ana Ferreira, Ana Gouveia, Ana Isabel Azevedo, Ana Luísa Mendes, Ana Maria Silva, Ana Monteiro, Ana Patrícia Pinto, Ana Paula Dias, Ana Paula Pereira, Ana Raquel Ribeiro, Ana Sofia Amaral, Ana Teles, Ana Varela, André Varandas, Ângela Duarte, António Costa António Costa, António Ferreira, António Lopes, António Pina Melo, Bruno Cardoso, Carla Pinto, Carla Henriques, Carlos Cruchinho, Catarina Cotta, Clara Amaral, Cláudia Ferreira, Daniel Gomes, David Vaz, Diana Dias, Diogo Cunha, Diogo Montenegro, Dulce Silva, Elisa Gomes, Fausto Ferreira, Filipa Menezes, Francisco Igrejas, Gabriela Pina, Gilcia Barroso, Gonçalo Fonseca, Hugo Gama, Hugo Martins, Joana Barros, Joaquina Mendes, José Miguel, José Nóbrega, Leonor Pinto, Lina Lemos, Luís Filipe Rocha, Luís Miguel Marques, Luís Silvestre, Magda Duarte, Manuela Ferreira, Margarida Dias, Maria Alexandra Miranda, Marta Costa, Marta Ramos, Michael Barroso, Mónica Pereira, Nelson Moita, Niza Falcão, Nuno Mendes, Nuno Silvestre, Oscar Pinto, Padro Baltazar, Paula Almeida, Paula Marques, Pedro Pinto, Raquel Sousa, Rita Gouveia, Rita João, Sérgio Fernandes, Sónia Catarino, Susana Silva, Susana Vicente, Susete Dia,s Tércio Madeira, Tiago Matos , Tiago Pereira, Vanessa Almeida, Vera Brito, Vera Lúcia Almeida, Yann Thual.
Nota do autor
“Transviriato” é uma reinvenção da história passada no tempo de Viriato, guerrilheiro lusitano que resistiu aos romanos entre os anos de 147 e 139 a.C., ano em que foi assassinado por Audax, Ditalco e Minuro a mando de Quinto Servílio Cipião.
A personagem do Bobo acompanha toda a peça. Faz comentários, mete-se no diálogo, faz palhaçadas ou entristece-se conforme a tensão das cenas. Dá a entender que pode ser ele também um dos diferentes Viriatos da peça. É uma personagem multifacetada que serve igualmente de narrador e de defensor dos valores da Lusitânia, com um olhar sobre o presente.
Do espetáculo
O Trigo Limpo teatro ACERT, paralelamente à criação artística para espaços interiores, tem desenvolvido uma vertente de “teatro de rua” ou de “teatro na rua” que, para além da utilização de espaços autónomos de apresentação - casos do cenário do “AuGaciar” ou da máquina “Memoriar” - tem apostado numa forte vertente de animação de espaços públicos, casos da participação na “Peregrinação”, EXPO’98, ou na EXPO Hannover 2000.
É um percurso que passa agora, com a produção de “Transviriato”, pela criação de uma cenografia autónoma e móvel que, ao mesmo tempo que é zona de representação, é também espaço de instalação do público, constituindo assim uma sala de espectáculos itinerante e também pouco tradicional, lembrando um espaço teatral isabelino (Globe Theatre) ao mesmo tempo que remete para a memória popular da arena, quer em forma de coliseu ou de praça de touros.
Esta estrutura octogonal, à semelhança da Cava de Viriato será cenografada, no exterior, com a imagem “desfocada” do coliseu de Roma. O interior, fará lembrar um espaço primitivo de celebração ritual, não só pela utilização de elementos cénicos bem como da iluminação feita simbolicamente pelo fogo.
Neste “cenário” será representada a peça “Transviriato”, escrita a convite desta Companhia, por Jaime Rocha, um dramaturgo contemporâneo, recentemente galardoado com o Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa de Escritores.
Ao propormos fazer, com este espectáculo, um circuito por sítios de reconhecido valor histórico e cultural pretendemos, não só, proporcionar o acesso a este acontecimento cultural por parte quer das populações locais quer dos potenciais turistas ou passantes, como também conseguir, de uma forma eficaz e porventura espectacular, animar esses mesmos locais, como apoiar grandemente a divulgação do seu património histórico e cultural.
Este projecto, ao estabelecer-se durante um largo período em cada um dos locais, pretende servir de pólo de animação e congregar actores locais que, durante as fases de montagem, obtêm formação em diversos domínios do espectáculo, integrando-o nas datas da sua apresentação.
Esta perspectiva de trabalho favorece a integração do evento na comunidade, contribuindo para deixar equipas sensibilizadas para o prosseguimento de acções que favoreçam dinâmicas de animação locais.
Transviriato é um espectáculo que ultrapassa a barreira da apresentação usual do espectáculo teatral, inserindo-se num percurso de animação teatral em movimento por 9 zonas do país.
excerto do texto
1ª cena
(Um espaço de terra batida, ao ar livre, parecido com uma arena. Lumes acesos.
Alguns são carantonhas, outros são bonecos amarrados a postes.)
BOBO - Meus senhores e minhas senhoras, eu não sou Viriato, eu sou o Bobo. Sou a pessoa mais importante deste teatro.
Sem mim não iriam perceber nada; ou pelo menos, muito menos do que eu. Menos, menos, estou a repetir-me e ainda agora comecei.
Bem, estou aqui para tirar dúvidas, falar com as crianças e encaminhar algum dos espectadores que se sinta mal ou que deseje somente ir aos lavabos.
Por favor, desliguem os vossos telemóveis. É muito chato o seu vizinho no meio de uma cena trágica — e vão certamente ver cenas trágicas —, o seu vizinho, dizia eu, ser impedido de continuar concentrado num diálogo, porque neste teatro há muitos diálogos como terão oportunidade de ver. Isto não é uma performance, aviso já.
Se mesmo assim desejam continuar cá dentro, tudo bem, senão ser-lhes-á restituído o dinheiro do bilhete ou retirado o convite.
Bem, como ia dizendo, no fundo era só isto que eu queria dizer, esta peça não segue cronologicamente a história da Lusitânia, nem da Hispânia, nem da Cónia, nem de Roma, nem os factos históricos ocorreram exactamente como aqui vão ver.
Tudo se passa num tempo indefinido, antes e agora.
Tudo é inventado a partir de referências dispersas, lidas e ouvidas aqui e acolá, tendo muitas das coisas que vão ver sido transmitidas de avós para netos, de pais para filhos, como quem diz, oralmente.
É uma peça sobre Viriato, esse famoso... bem, não vou contar a história, o que eu queria falar era sobre subsídios... e falar de mim. Eu sou...
UM ACTOR – Acaba lá com essa merda! Estamos aqui para te aturar ou quê!
BOBO – Bem, tenho que me despachar. A pior coisa para mim é quando os actores começam a gritar. Esta peça portanto é sobre Viriato, o nosso herói lusitano, o que equivale a dizer que é sobre mim, ah, ah, ah...
UM ACTOR – Não me digas que vais mesmo contar a história!
BOBO – Como estão a ver, o meu papel aqui é nada, não valho um tostão, sou uma espécie em extinção, como os burros. Já fui narrador, contra regra, ponto, já fiz de criado, já transportei estandartes e toquei cornetas, enfim, e nunca me gritaram deste modo. Foi preciso tornar-me Bobo para ser humilhado desta maneira... Bom, então este teatro vai começar com a cena da serpente em que...
UM ACTOR – Então, acabas ou não acabas, isto tem horas marcadas.
BOBO – Okey, okey.
(para os espectadores:) Adeus, desliguem os telemóveis senão eles zangam-se. (Entra um dragão que lança fogo e de onde é expulso um guerreiro. O Bobo apanha um susto.) Porra!
excerto do texto “Transviriato”