DOM fora de cena Os Donos do Mundo (H)a ver teatro – Grupo de Teatro de Amadores da ACERT Um espetáculo de teatro da comunidade para a comunidade
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Os Donos do Mundo
Na missa de domingo, o padre novo da aldeia, faz o seu sermão:
– Aqui é a terra pobre donde nasce o bom vinho. E nestes domínios submissos onde a autoridade é indiscutida, quanto mais pobre é a terra, mais rico é o vinho. É por isso que precisamos de uma nova caridade para os mais desprotegidos e não de esmola em dias certos.
O dono da casa grande assiste à missa e percebe o recado.
Em conversa com a mulher decide convidar o bispo para um jantar e propor-lhe o afastamento do novo padre em troca do arranjo do teto da igreja da Esperança.
É inverno e na noite do jantar aparecem na casa grande, para além de todos os convivas, duas estranhas figuras. Um homem importante e um mendigo.
E é à luz dos raios e sob o ruído forte dos trovões que é feito o “negócio”.
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Ficha técnica e artística
Interpretação: Agostinho Marques, Ana Henriques, Ana Melo, António Nunes, Camila Martins, Carlos Ribeiro, Carlos Teles, Cristiana Ferreira, Cristina Quintãs, Débora Lopes, Dulce Coimbra, Elsa Coimbra, Elsa Ribeiro, Fátima Ribeiro, Felisberto Figueiredo, Fernanda Ribeiro, João Almiro, Liliana Mota, Luiz Paz, Marta Sousa, Sandra Martins, Vítor Figueiredo e Tatiana Duarte.
A partir do conto “O Jantar do Bispo”, de Sophia de Mello Breyner
Dramaturgia:Carlos Ribeiro
Encenação: Carlos Ribeiroe Pompeu José
Apoio à dramaturgia e encenação: Carlos Teles, Irene Pais, Sandra Martins e Susana Alves
Produção: Irene Pais e Marta Costa
Figurinos e Adereços: Adriana Ventura, Ana Fraga, Lizete Lemos, Paula Conceição, Sandra Santos e Raquel Costa
Música: Gustavo Dinis e Banda Filarmónica de Tondela
Luz: Paulo Neto
Som: Luís Viegas
Vídeo: Zito Marques
Apoio Técnico: Paulo Leão
Fotografia: Carlos Teles e Rui Coimbra
Parceiro: União de Freguesias de Tondela e Nandufe
Parceiros convidados: Cooperativa Vários e Associação de Solidariedade Social de Oliveira de Frades (ASSOL)
Sobre o Grupo
Sobre o grupo: Era, há algum tempo, propósito da ACERT criar um Grupo de Teatro de Amadores. Entretanto surgiu o desafio lançado pela União de Freguesias Tondela e Nandufe (UFTN) à ACERT, para fazer um espetáculo de teatro com vários elementos da comunidade, numa parceria entre estas duas instituições.
Neste contexto, a ACERT propôs-se avançar com a criação do Grupo de Teatro de Amadores, assumindo que o primeiro espetáculo teria como objetivo principal “ser um espetáculo da comunidade para a comunidade, numa envolvência transversal, diversa e inclusiva”. Foi criado o (H)a ver Teatro - Grupo de Teatro de Amadores da ACERT, no final de 2018, e deu-se início ao processo de construção do primeiro espetáculo no início de 2019. Com uma pandemia de permeio, lá se foi avançando a um ritmo mais lento do que se desejava, mas finalmente, estreamos Os donos do Mundo, a partir do conto “O jantar do Bispo”, de Sophia de Mello Breyner.
Sobre a dramaturgia
PEÇA DE TEATRO Os donos do mundo
Adaptação do conto “O jantar do bispo”, de Sophia de Mello Breyner Anderson
Antes de ter lido o texto do magnífico conto da escritora e poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen, fiquei em primeiro lugar com uma imagem de um jantar e de uma festa, como o centro da ação narrativa, que foi imediatamente identificada por quem nos apresentou o texto, durante a primeira reunião do núcleo de pessoas que têm a gratificante tarefa de levar para a frente um projeto de teatro amador aberto à participação da nossa comunidade.
Com a adaptação deste conto (que me deram a honra de ter nas mãos e trabalhar para um objetivo comum de pessoas que gostam de teatro), imaginando um palco, fui-me apercebendo das suas dicotomias: riqueza/pobreza, casa grande/aldeia pobre, jantar luminoso/tempestade e ruas escuras com lama, mal/bem. E diz-nos o conto: “era ali a terra pobre donde nasce o bom vinho e quanto mais pobre é a terra, mais rico é o vinho”.
O processo criativo foi-se arrumando em grupos de personagens que vão ser o fio condutor e as amarras da peça de Teatro, que permitam, numa fase mais avançada, ter uma participação mais alargada de pessoas, de instituições e associações da comunidade de Tondela.
Então, as ideias, coletivamente, foram-se formando em imagens de cenários, em supostas sonoridades e eventuais bandas sonoras, em marcações de palco, em figurinos e figuras que ainda anseiam pelo final de um pedido importante no conto da autora. Os pedidos nas mais altas hierarquias do poder são negócios que compram e vendem consciências e não são fáceis de fazer, mas fáceis de acontecer.
Com o avançar do processo criativo conjunto, a dicotomia reforçou-se, saltou do texto para o palco dos ensaios, para o meio de nós, a festa do jantar deu espaço à “mesa dos pobres” e como universos paralelos, que, tal como na vida, existem num confronto acomodado a tradições e verdades adquiridas de poderes, direitos e falsas morais de donos do mundo. Como diz o conto:
“O mundo é como é, temos de ter paciência”.
É um conto atual e que viajou no tempo. É uma realidade que, na sua análise, servia para o nosso país de ontem como serve para o de hoje. Este texto, tal como na vida, permite uma reflexão sobre o que é real e o que é fantasia; a decisão a respeito do que vai ocorrer em palco vai ser do espetador. Essa será a difícil tarefa do nosso grupo. Porém, fazer teatro, adaptando um conto de extrema sensibilidade, é já um mundo em que não há donos e que, tal como a arte, deve ser para todos e onde vale a pena viver.
Carlos Ribeiro