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Olá, Classe Média
O espaço ocupado por esta intervenção está ocupado por uma televisão.O público vê o que vê mais as imagens dessa televisão.E o nascimento!E a memória? Que não nos guardou o nascimento - o momento exacto de nos pormos cá fora?...De uma porta, como de um sonho (ou de um concurso de televisão), nasce um artista. E o artista em questão tem questões. Mas a polícia actua de imediato. A polícia, esse poder...E a televisão? Esse poder. E o poder! E poder por em causa o poder...E o poder de por em causa o poder...E o poder totalitário! E a memória: “Ah, naquele tempo é que era bom...”...E se a solução for contar piadas?Será que a rir é que a gente se entende?Será que é a rir que a gente se entende?Será que a gente se entende?!...Será que a gente entende?Será que há gente?!...Será que a agente...Desculpe, sr. agente...Desculpem!?...E se a solução for contar histórias??:
Temos o triste dever de comunicar o nascimento, hoje, às três horas da manhã, do cidadão dois bilhões quatrocentos e cinquenta e cinco milhões, setecentos e oitenta e sete mil, trezentos e vinte e dois. O nascituro, do sexo masculino, veio ao mundo apesar das providencias das autoridades e de todos os esforços da ciência, que tentaram evitar por todas as maneiras o odioso acontecimento. Vítima de um ato criminoso de dois cidadãos de sexos opostos que se entregaram a práticas sexuais há muito condenadas, o cidadão em questão foi gerado pelos processos mais obsoletos, trazendo dores e aflições durante nove meses a uma cidadã prestante, e ingressou – completamente despreparado – num meio ambiente impróprio, numa ecologia à qual dificilmente se adaptará. Os médicos constataram condições intelectuais especulativas que...”
Um actor nasce, entra em cena e, quase sempre com ironia, vai tentando sobreviver no palco. É ajudado nessa difícil tarefa pelas imagens de uma televisão e por um polícia que inventou a bomba de neutrões e que depois de se tornar seu amigo intimo o atraiçoa.O actor resiste e, sempre com ironia, vai questionando tudo e todos.
Mas também se vai deixando contaminar pelas mensagens que de forma evidente ou velada lhe são enviadas.Como num “zapping” ouve falar, e fala: de mediocridade, da pena de morte, de sexo, de futebol, de Deus, dos EUA, da Rússia, da China, da extrema direita e da extrema esquerda, dos nazis e dos terroristas, da bomba de neutrões, da guerra (guerra de Tróia, guerra santa, guerra das rosas, guerra dos trinta anos, guerra dos sexos, guerra de audiências, guerra do diabo a quatro...). Diverte divertindo-se.E sonha. Sonha ser apresentador de televisão. Sonha manipular e é manipulado.Desiste.Em desespero de causa percebe que ninguém está inocente e resiste mais uma vez.Como num circo, como num círculo, tenta manter-se. Mas valores mais altos se levantam.E... digamos que é despedido.
“Mas como? Agora? Agora que eu estava a começar a gostar? Agora que eu estava a começar a aprender? Mas porquê eu? Porquê já? Porquê tão cedo? Ah, não senhor. Não pode ser. É inconstitucional. Eu não vou aceitar, assim, sem reagir. Eu não aceito não senhor. Eu não me entrego. Eu vou-me defender.”
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Ficha técnica e artística
textos (excertos): “Computa, computador, computa” e “A História é uma istória” de Millôr Fernandes; “Tire a mãe da boca” de João de Sousa Monteiro; entrevista a Samuel Cohen publicada no Diário de Lisboa em 28 de Setembro 1981.
dramaturgia e encenação: Pompeu José
assistência de encenação: Gil Rodrigues e Paulo Neto
cenografia e coord. vídeo: Zé Tavares e Pompeu José
vídeo e SFX: 3Di, Tony Rebelo e Zito Marques
música: Carlos Peninha
bonecos: Luís Pacheco
figurinos: José Rosa
técnicos: João Paulo Martins, Luís Viegas e Paulo Neto
carpintaria: Sílvio Neves
serralharia: Rui Ribeiro
actores: Miguel Torres, Pompeu José
actores em vídeo: António Lopes, Cláudia Andrade, Hugo Torres, Ilda Teixeira, José Rosa, Maria Miguel, Paulo Neto, Rui Ribeiro, Rute Lourinho e Ruy Malheiro
voz off: José Rui Martins
canção: “Abaixo a Televisão”; autoria: pobres de espírito, músicos: Carlos Peninha e Rui Silva; voz: Hugo Torres.
na anTeVisão: colaboraram ainda Cajó, Carla Torres, José Rosa e Maria Simões
agradecimentos: Fiar e o Bando