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Memoriar II
A convite do Pavilhão de Portugal para participarmos na EXPO Hannover 2000 desafiou-nos a, para além da “revisão geral” que os 333Km percorridos na EXPO’98 já exigiam, refazer a cenografia e a dramaturgia da “máquina” de forma a integrar o desfile diário da EXPO Hannover 2000.
Percursos Transatlânticos por um ciclista na Europa
O brinquedo popular (ciclista de madeira empurrado aleatoriamente por mão de criança desejosa de jogar com a realidade) comanda a roda da vida de músicos de barro desejosos de expressarem, apesar da sua origem popular, a sua vulnerabilidade às globalizações anunciadas como paraíso do futuro.
Caramulo é o nome do ciclista. A sua origem prende-se com o nome da montanha que mais próxima fica do seu local de nascimento – Tondela.
Fonakan é o idioma transatlântico criado para a comunicação entre os intervenientes. Longe de ser um dialecto chauvinista, representa um desejo de identidade e de resistência à standardização consumista. É uma linguagem de partilha, numa comunicação que se deseja infinitamente acessível aos utilizadores. O “galreamento” local de Molelos é um paladar local para uma conversação que se deseja universal.
A madeira que veste esta engrenagem de teatro e música em movimento é um pedaço natural num corpo que transmite festa, mas que é também grito de subversão sem tratado, que não aspira à solidez de qualquer pertinência.
A partitura musical criada está na fronteira entre a harmonia e o caos, confrontando as tensões teatrais entre o fio da navalha e a euforia de comunicação com o público. A voz do Caramulo comanda o jogo, e humaniza convivências.
Memoriar é uma partitura musical que destrava a ansiedade de não circunscrever a cultura às fronteiras e aos tratados, antes a projectando para universos de referência que, tal como o brinquedo de infância, representam lembranças impossíveis de aprisionar por regras, evidenciando que a memória, mesmo quando é dos outros, também nos interessa.
Memoriar são os sinais transatlânticos que tornam qualquer xenofobia insustentável, pela autenticidade com que se partilha a aventura da comunicação num cosmos sem limites.
Memoriar é sonhar em formato gigante, permitindo que a dimensão da humanização prevaleça sobre anunciadas superioridades mundializantes.
Memoriar são os percursos transatlânticos percorridos por uma bicicleta europeia, desejosa de partilhar aventuras com os povos e culturas que têm contribuido decisivamente para a não padronização de paixões.
Memoriar é acreditar que existe um ciclista desejoso de continuar a pedalar para que o caminho não tenha uma direcção única, antes se estabelecendo nos compassos rítmicos transbordantes da imaginação criativa.
Memoriar é uma forma de viajar no tempo que valoriza mais a nota musical do que a nota bancária que, pretensiosamente, se quer impor como detentora de valores inegociáveis.
José Rui Martins
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Ficha técnica e artística
Ante-estreia 1 de Junho de 2000, Tondela
Estreia 10 de Junho de 2000, Expo Hannover, Alemanha
Integrada no desfile diário da Exposição de 10 de Junho a 10 de Outubro
Direcção artística José Rui Martins
Direcção plástica José Tavares
Direcção técnica Luís Viegas
Escultura e mecanismos Nico Nubiola
Música Fran Perez e Xavier Abraldes
Figurinos José Rosa e Ruy Malheiro
Invenção do dialecto “fonakam” Psicofónica de Conxo
Poemas fonéticos Carlos Santiago
serralharia (estrutura) João Antunes, José Ferreira e Jorge Ferreira
Carpintaria Sílvio Neves
Pintura e apoio à montagem João Arede, Nelo
Fotografia Carlos Teles, Maurício Abreu, Paulo Leão
Elenco Bitocas *, By Longe *, Cláudia Andrade, Ilda Teixeira, José Rosa, José Rui Martins, Maria João Neves, Maria Simões, Nelo *, Nuno Patrício Preto Jr. *, Xico Bandinha *, Ruy Malheiro
* participação especial da equipa musical Associação d’ Orfeu, Águeda