SÁB fora de cena D. Sebastião, O Menino-Rei Trigo Limpo teatro ACERT
SÁB
fora de cena
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sáb
D. Sebastião, O Menino-Rei
"Sebastião” foi uma aposta criativa com base iminentemente musical, e procurou reproduzir a confluência de linguagens artísticas na abordagem de um texto sobre uma figura mítica da história portuguesa.
A cenografia incide na utilização simbólica de objectos domésticos de zinco, actuando, com o desenho de luz, como pólos de sustentação estéticos de elevado poder inovador.
A exploração da linguagem da opereta teatral, conjugada com um jogo de representação simbolista, permitiu a exploração de uma dramaturgia que teve, na partitura e interpretação musical, um dos seus elementos determinantes.
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sáb
Ficha técnica e artística
Estreia 12 de Setembro 1998, Lisboa
EXPO 98, Palco 5
Texto Sinde Filipe
Autor, coordenador do projecto, compositor e director musical Laurent Filipe
Encenação José Rui Martins
Assistência de encenação Elisa Carlota
Cenografia e adereços José Tavares e Luís Viegas
Desenho de luzes Luís Viegas
Desenho gráfico e diapositivos José Tavares
Figurinos José Rui Martins
Costureira Alzira Azevedo
Coordenação de produção Laurent Filipe, Kelli Wright, Elisa Carlota
Elenco Fran Perez e João Maria Pinto
Músicos Jean Marc Charmier: trompete
cornetim: Alberto Roque – clarinete
saxofone: Gregg Moore – tuba
trombone: Carlos Azevedo – teclas: Rui Paulo Simões – teclas: Paulo Bandeira – percussão
Excerto do texto
SEBASTIÃO – (Dirigindo-se às tropas, cantando:)
Ninguém ataca,
Ninguém sai do seu lugar, Sem eu dar ordem,
Sem eu mandar!
Se alguém o fizer E desobedecer, Corto os tomates
E ponho-os a arder!
(Entretanto, o Actor Velho vestiu-se de Marroquino e, numa extremidade do palco, faz as suas orações, de rabo para o ar. Na outra extremidade, Sebastião desce do cavalo e, também ele, começa a rezar. Quando terminam, montam nos respectivos cavalos. Enfrentam-se para lutar. Estacam frente a frente. O Árabe começa a gritar uma “algaraviada” incompreensível e, obviamente, insultuosa.)
SEBASTIÃO – (Aos berros. Possesso.) Intérprete! Intérprete! (Para o intérprete)
O que é que ele diz, esse filho da puta?
INTÉRPRETE – (Tímido e atrapalhado.) Ele está a dizer que Vossa Alteza - maldita seja - estou a traduzir tudo, foi assim que ele disse... Que vossa Alteza, maldita seja, vai pagar caro o descaramento de vir aqui invadir, sem autorização, a terra dele. (Desculpando-se para D. Sebastião.) Foi o que ele disse, foi o que ele disse...
SEBASTIÃO - Diz a essa bosta infiel, a esse cão tinhoso, a essa nojenta baba de camelo que hei-de invadir a terra dele as vezes que me apetecer! A minha religião manda fazer a guerra aos infiéis...
(O Intérprete traduz para o Árabe que o escuta e, em seguida, contesta.)
INTÉRPRETE - Ele diz que a religião dele manda fazer exactamente o mesmo, que a guerra que faz é santa e que aqui o infiel é Vossa Alteza...
SEBASTIÃO – (Aos gritos.) Infiel? Infiel, eu? Eu sou um soldado de Deus. Eu sou um soldado de Deus! Não admito que esse cachorro quente me chame infiel ou compare a nossa santa religião com a dele. Religião há só uma, é a minha e mais nenhuma!
(O Intérprete traduz para o Árabe que lhe responde chocarreiramente.)
INTÉRPRETE - Ele manda dizer para Vossa Alteza que isso é o seu ponto de vista e que, com a sua licença, meta a religião num sítio que ele lá sabe. (Sebastião faz gesto para agredir Intérprete.) Ele é que disse! Ele é que disse! (…)
VELHO ACTOR – Senhor! E agora, senhor? O que havemos de fazer com tanto Mouro a atacar?
SEBASTIÃO – (Agónico.) Fazer como eu, combatendo e devagar. (Cai.)
CORO
E deu-se a fatalidade!
Por falta de um chefe à altura, De um sereno capitão, naquela louca aventura, Numa imensa confusão, Morreu toda a mocidade
E, claro! Sebastião...
excerto do texto “D. Sebastião, o menino-rei”