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Cor De Burro Quando Foge
Em Portugal existe uma forte tradição popular marcada pelo conto.
Transportar o espírito inventivo e imaginativo do conto para o campo teatral é: pôr as coisas no seu devido lugar.
O conto tem, na origem, uma forte componente teatral; devolvê-lo ao palco é, não só uma aventura emocionante, como um percurso que é urgente continuar a percorrer.
“cor de burro quando foge” é o que nós habitualmente chamamos ao abstracto e ao que queremos esconder. O texto, na adaptação, sofre uma actualização que tenta torná-lo mais fácil de mastigar…
A história é simples:
“o rico, que tudo sabe, pode e manda, é majestosamente enganado pela imaginação e poder criativo do outro (o pobre)."
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Ficha técnica e artística
Estreia: 22 de Dezembro
Espaço Cultural ACERT, Tondela
Adaptação livre de um conto tradicional português
Texto e encenação: José Rui
Luz: Carlos Alcindo, João Rei, Jorge Coimbra e Luis Carlos Coimbra
Figurinos: Ana Bernardete
Adereços: José Augusto
Elenco: Ana Isabel Carvalho, Ana Saraiva, Carlos Manuel, Carlos Silva, Élio Antunes, Ilda Silva, João Almiro José Rui, Luis Carmo, Luis Melo, Nuno Café, Teixeira de Matos e Teresa Coimbra.
Excerto do texto
NETO – Conta-me uma história, avó!
AVÓ – A avó respondeu-lhe que esperasse, que estava enrolando o novelo.
“Ajuda-me, que logo te contarei a história!” – disse ela.
NETO – O neto disse o que habitualmente as crianças pensam mas que educadamente costumam guardar:
“Vocês os adultos são sempre a mesma coisa! Quando vos pedimos alguma coisa, pedem sempre outra em troca.”
AVÓ – Que modos, menino! Que forma feia de falar à sua avó.
NETO – A avó repetiu as frases habituais nestas situações. Por fim lá se resolveu…
AVÓ – Pronto, vamos então à história…
NETO – A avó arrumou o novelo, chamou-me para junto dela e começou a história, como de costume: “Era uma vez…”
AVÓ – …Dois compadres…
(Luz baixa de intensidade nos dois planos onde se encontravam a avó e o neto. Eles saem. Entra actor.)
AVÓ – Era uma vez dois compadres. Um muito rico. (tiro) O outro muito pobre. (tiro) Ora acontece que o pobre, querendo apanhar o dinheiro ao rico, disse pr’ á mulher…
POBRE – (Espera que a mulher apareça de dentro de casa e sussurra) Sobe, mulher, agora somos nós, vem para cima. O senhor já nos apresentou.
MULHER – (ainda escondida) Não saio! Então para vocês houve tirinho a apresentar-vos e para mim apenas falou: “a mulher” Não subo se não houver tirinho.
POBRE – (para o actor) Ó meu senhor dê lá o tirinho que ela cala-se. Teimosa como é, não irá deixar seguir o argumento enquanto tal não fizer.
ACTOR – (tirando texto do bolso) Mas aqui no texto da peça diz: “Ora acontece que o pobre, querendo apanhar dinheiro ao rico, disse pr’á mulher…” E depois diz à frente, como anotação: “Surge mulher do pobre que lhe responde, dois pontos! E começa logo o texto dela, que diz: …”
MULHER – (Ainda dentro de casa) Pare lá com isso. Querem lá ver agora que ele vai dizer o texto que me cabe a mim?
POBRE – (para o Actor) Chegue-se cá! Chegue-me cá o seu ouvidinho. é uma vergonha estarem aqui as pessoas a ver este vergonhoso espectáculo. Se ela quer o tiro para começar, dê-lo lá. É mais tiro menos tiro.
RICO – Eu bem sabia que não me devia misturar com esta gente. Não se sabem portar correctamente em lado nenhum. Vou-me embora. é uma vergonha!
ACTOR – (para o rico) Um momento, por favor. Tudo se irá resolver. O autor não irá levar a mal que eu aumente um tiro ao texto. por outro lado, já se dão tantos tiros a mais neste mundo, que este passará, concerteza, despercebido. (para o público) Em nome desta companhia “Faz de Conta”, apresento-vos, senhores, em meu nome, e de todos os elementos , as minhas mais sinceras desculpas.
A função vai continuar…
excerto do texto “cor de burro quando foge”