15 jul , 2023
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conversas ACERT Conversas ComDão – Tributo a António Quadros 31º TOM DE FESTA FESTIVAL DE MÚSICAS DO MUNDO ACERT Intervenientes na conversa a anunciar.
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TOM DE FESTA 2023 | DIA 15

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2023
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Conversas ComDão – Tributo a António Quadros

31º TOM DE FESTA FESTIVAL DE MÚSICAS DO MUNDO ACERT

Nascido há 90 anos em Santiago de Besteiros, concelho de Tondela, António Quadros - de nome, João Pedro Grabato Dias - de vontade, Mutimati Barnabé João - de combatente e outros mais atributos identitários (que foram aparecendo de acordo com as obras que foi deixando).

 

“António Quadros ocupa, no panorama da arte e da cultura portuguesas da segunda metade do século XX, um lugar diferenciado. Lugar ao mesmo tempo incómodo e excepcional — ou incómodo por excepcional —, simultaneamente estranho e central. 

 

Ao que logo vem a pergunta: porquê começar por empregar adjectivos tão aparentemente contraditórios para desenhar o perfil de um artista? 

Com efeito, olhando um pouco o que foi a biografia de António Quadros, na sua multímoda actividade como pintor, professor, pedagogo, poeta, coleccionador e as tantas outras vias que o seu engenho seguiu, não podemos deixar de nos espantar já nem tanto com a quantidade de ofícios a que se dedicou — os mais dos quais sem nisso ter tido interesse material —  como sobretudo com a sua qualidade no desempenho de tantas e tão diversas tarefas que ao longo da vida se foi propondo.

 

Mesmo se, a um segundo olhar, aí detectamos igualmente o perfil do homem com génio bastante para se ter dedicado apenas a uma dessas coisas, tendo-se multiplicado em tantas outras, a estranheza não pode deixar de se nos impor. Precisamente porque isso gera o que poderíamos chamar, muito propriamente, um espaço de não-contradição. 

 

(…) António Quadros procurou resolver na sua própria via e vida aquilo que a muitos de nós parece contraditório entre si: a prática da escrita, da imagem, da docência, ou a acção política, pela respectiva inscrição no espaço único de um humanismo radical, aberto a uma ideia, quiçá hoje estranha, de uma busca de universalidade.

 

Esta forma de compreender o mundo e, depois, de agir sobre ele compreensivamente — atitude que antes de ser estética foi decerto filosófica e ética — é aquela que desde logo nos informa da sua personalidade diferenciada, como da sua coragem e da sua curiosidade insaciável, e também o factor que nos permitirá compreender a incomodidade da via que para si mesmo escolheu (…).

 

A noção de que a vida é um todo que se desdobra no múltiplo que cada um contém, grata ao humanismo renascentista, foi em muito apagada pela tradição moderna da especialização. Em Portugal foi mesmo condenada a um vago ostracismo institucional, provinciano e medíocre, que nisso se habituou a projectar invejas, ressentimentos e o pior dos valores morais. 

 

Contra edificações centenárias como essa, que fazem por vezes cadeias mais apertadas do que depois se vê, homens como Almada, Lanhas ou Quadros protestaram a ambição radical de sonhar o mundo de uma outra maneira. Foi a partir desse sonho que encontraram as energias para se dedicar a actividades aparentemente tão díspares, mas no entanto ligadas por subtis e invisíveis fios de sentido.”

(…)

Bernardo Pinto de Almeida, Abril/Maio 2001

Texto escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico

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