QUA finta A vida das Ideias ou Arquivo da Sobrevivência JOSÉ MANUEL CASTANHEIRA José Manuel Castanheira - desenhos e maquetas da criação cenográfica de um nome indissociável do Teatro português.
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A vida das Ideias ou Arquivo da Sobrevivência
Ao longo dos anos dei-me conta de como os campos por onde me movo estão ligados e de como em tudo irradia uma vontade de inventar mundos paralelos. O desenho à mão foi sempre uma constante. Uma obsessão pelo esquiço, pelos blocos, lápis e canetas. A casa inundou-se de cadernos repletos de pequenos mapas imprecisos; esboços de uma gramática particular que anseiam fazer parte de outras histórias e deixarem de ser só meus. O desenho que me ensina a ser, a ler, a mostrar, a organizar as ideias, que são muitas. Sempre o mesmo gesto, donde virá essa vontade? Desde aqueles riscos, qual teia de aranha que a Mila mostrou à Fernanda Lapa (1973), acontecimento que me abriu a porta do teatro, ou dos livrinhos de bonecos que ainda criança encostava contra a vidraça da janela para a malta que na aldeia se sentava na rua a ver.
Aprendi a desenhar nuvens muito cedo. Imagino que de lá vêm as ideias.
Então primordial será saber como se formam as nuvens.
Ou muito simplesmente aprender a ser nuvem.
Na ausência dessa capacidade só me resta encontrar escadas para as alcançar.
Muitas ideias terão decerto uma vida plena que me escapa.
Enigmática memória, cúmplice súbtil do esquecimento.
No instante do pensar tento decifrar algumas ideias e desenho no papel.
Papel branco, essa imensidão nublada por onde o lápis me conduz.
Risco caminhos, errante invento geografias
encontro outras ideias e todas procuram sobreviver.
No teatro, o meu olhar viciado, está sempre impregnado de uma utópica visão
e, sem que eu lhe pergunte, funde actores com espectadores.
Tal como no papel branco, entre eles reina semelhante atmosfera nublada,
éter de mil fluxos que invadem e cruzam o teatro inteiro.
Atmosfera ou oxigénio de palavras, sons, gestos, olhares fulminantes, faces luminosas,
seres expectantes, luz essencial, a sombra que simula o vazio,
e, entre tudo e todos, o silêncio que molda o universo.
Muito antes, para desenhar, irei ao sótão recordar as cores do sonho
onde outra escada é necessária.
E então acontece qualquer coisa, uma claridade indefinida imagina o dia e acende um palco
uma qualquer hipótese capaz de confortar o coração do espectador.
Agora os desenhos desaguam em maquetas tridimensionais
Representação inocente, quase infantil,
Miniaturas onde flui uma linguagem artesanal para o labor colectivo do espectáculo.
Na solidão do laboratório, o cenógrafo pensa em todo o teatro,
na cidade, no mundo, no dramaturgo, nos actores, nas tábuas, nos projectores,
mas também nas notícias do jornal da manhã.
Nessa instabilidade enfrenta o risco, a intensidade, a urgência,
uma constante dúvida - para que serve tudo isto – e intuitivo inventa
outro chão para aquele momento efémero que irá desaparecer.
Um vaivém de tantas ideias,
onde, porventura, o melhor desenho compreende a melhor ideia,
quando por magia absoluta consegue aprisionar
algum raio luminoso que atravessa o ar
nessas travessias invisíveis entre a cena e o público.
Nos desenhos permanecem ideias:
o meu arquivo da sobrevivência.
José Manuel Castanheira
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Ficha técnica e artística
Organização: ACERT e José Manuel Castanheira
Montagem: ACERT
Parceria: Museu Nacional de Teatro e Dança
Apoio: Biblioteca Municipal de Viseu