O dia em que a terra se fez mar Fotografias de Tiago Miranda e textos de Raquel Moleiro. Venda solidária.
Autores
Tiago Miranda
Raquel Miranda
Ano de lançamento
2020
Exemplares
300
Preço
10 €
Autores
Tiago Miranda
Raquel Miranda
Ano de lançamento
2020
Exemplares
300
Preço
10 €

O dia em que a terra se fez mar

Fotografias de Tiago Miranda e textos de Raquel Moleiro. Venda solidária.

A ACERT editou o livro "O dia em que a terra se fez mar", reunindo as fotografias de Tiago Miranda e os textos de Raquel Moleiro, sobre a passagem do ciclone Idai pela Beira, Moçambique, em Março do ano passado. As vendas revertem integralmente para a Escola Secundária da Manga, na Beira, uma das mais atingidas pelo ciclone. O livro continua à venda na nossa loja e pode igualmente ser adquirido on-line, através do envio de uma mensagem para a ACERT. Comprem, ofereçam e partilhem!

A ACERT editou o livro "O dia em que a terra se fez mar", reunindo as fotografias de Tiago Miranda e os textos de Raquel Moleiro, sobre a passagem do ciclone Idai pela Beira, Moçambique, em Março do ano passado. As vendas revertem integralmente para a Escola Secundária da Manga, na Beira, uma das mais atingidas pelo ciclone. O livro continua à venda na nossa loja e pode igualmente ser adquirido on-line, através do envio de uma mensagem para a ACERT. Comprem, ofereçam e partilhem!

Edição: ACERT
Autores: Tiago Miranda e Raquel Miranda
Tiragem: 300 exemplares
Lançamento: 2020-02-08 na inauguração da exposição com o mesmo nome

Preço: 10€

Mais informações através do e-mail: producao@acert.pt

Imagens do livro "O dia em que a terra se fez mar"

Uma ponte para a Beira

O Trigo Limpo teatro ACERT participou com 4 dos seus espetáculos no Festival de Teatro Ahoje é Ahoje, que decorreu de 26 de Outubro a 9 de Novembro de 2019, em Maputo, realizando 12 apresentações e promovendo, conjuntamente com artistas moçambicanos, workshops em diversas expressões artísticas. Foi também nesse âmbito que decorreu uma primeira visita à Escola Secundária da Manga, na Beira, estabelecimento de ensino muito afetado pelo ciclone Idai, que teve como objetivo aferir conjuntamente formas de cooperação a implementar pela ACERT em parceria com escolas e outras organizações portuguesas. Nessa visita, foram entregues à escola 17 computadores portáteis cuja aquisição resultou da mobilização dos dois Agrupamentos de Escolas e Escola Profissional de Tondela, da Escola Alves Martins de Viseu e do Centro Hospitalar Tondela-Viseu, possibilitando que as aulas de informática reiniciassem, após todo o equipamento ter sido destruído pelo furacão. Quando programávamos as exposições para a Galeria ACERT neste trimestre, pensámos logo em convidar o Tiago Miranda para aqui expor as suas fotografias da Beira, as que saíram na reportagem do Expresso e outras que, de certeza, fariam parte do seu acervo. Seria uma forma de dar continuidade ao projecto de manter uma relação estreita entre a Beira e Tondela, esperando que daí fossem nascendo novos gestos comunicantes. O convite foi prontamente aceite, e às fotografias juntaram-se os textos de Raquel Moleiro. E quando soube desta relação da ACERT com a Escola Secundária da Manga, Tiago Miranda quis ir além da exposição, propondo-nos que fosse feito um livro e que a sua venda pudesse ser transformada em novos gestos de ajuda – algo em que ele andava a pensar há algum tempo, sem saber muito bem qual seria a melhor forma de canalizar as verbas conseguidas. Foi assim que nasceu este objecto, da vontade de um foto-jornalista, da colaboração de uma jornalista, do encontro entre voluntarismos vários, da vontade da ACERT em abraçar este projecto, de uma viagem à Beira, de outra viagem à Beira... do vai e vem de gestos, comunicações e braços dispostos a moverem o mundo, mesmo que aos poucos, em Tondela, no bairro da Manga.

ACERT

O dia em que a terra virou mar

O dia em que a terra virou mar

Os sobreviventes do Idai, que atingiu Moçambique em março de 2019, não conseguem explicar o ciclone a quem não o sentiu. Ensaiam palavras, tentam de novo. Falham. Não é possível retratar-lhe fielmente a dimensão. Ou a força. Ou sequer o barulho. O som do mundo todo a quebrar, a cair com estrondo, do céu cor de chumbo a abrir-se em chuva. Chuva não, onze horas de dilúvio, tão forte que a água parecia de pedra ao bater nas casas, nas árvores, ela sozinha a partir telhas e vidros, a desfolhar árvores inteiras, a rachar-lhe ramos e pernadas. E depois o vento a soprar rajadas de mais de 200 km/h como se estivesse a tentar a bater recordes de velocidade, a testar a resistência de todos os materiais de que era feita a Beira, as várias beiras, da cidade de pedra colonial aos bairros de chapa e tabique. E o mar, engordado por marés e céus, a varrer o que restava, a galgar limites, a fazer um oceano com 128 quilómetros de comprimentos e 72 de largura onde antes só havia terra e gente, a subir para lá da sobrevivência humana, a apagar a água aldeias inteiras.

Foi preciso ir lá e ver. Ver nos efeitos a dimensão do monstro. Seguir o rasto que deixou, marcado bem fundo, nas terras e nas gentes de Moçambique. Toda uma paisagem na horizontal, posta por terra, arrancada. Olhar uma Beira destruída, perceber-lhe a beleza entre os cacos. Assistir ao retrocesso de um povo em cada escola destruída, ao estremecer da Fé nos templos caídos. Ver a cólera a avançar nos charcos estagnados e acreditar em milagres a cada nascimento sem condições mínimas. Imaginar a fome a ceifar vidas nos milhares de hectares de searas de milho afogadas – “Não vai dar, não vai dar”. Fazer o caminho até à martirizada aldeia de Búzi, entrar numa povoação pintada a lama, numa catástrofe conservada em sépia. E fotografar tudo, para que se saiba que não foi só um pesadelo de que se acorda ao amanhecer.

Em cada imagem vê-se o olhar de quem olhou o mal nos olhos. Em cada imagem vê-se que quem não tem nada pode, ainda assim, perder quase tudo. E ainda assim, levantar-se. E seguir.

Este pequeno livro é inversamente proporcional à tragédia do Idai.

Raquel Moleiro