Mimi Frois — Conversa Vai, Conversa Vem
Mimi Froes é um dos nomes que têm dado que falar no panorama musical português pela sua versatilidade e fusão de estilos. A artista sobe ao palco da ACERT pela primeira vez nesta temporada, trazendo consigo a energia e a emoção de um trabalho profundamente ligado à sua vivência e ao seu público. Numa conversa sincera, partilha a sua jornada desde os primeiros passos na música até à sua relação com a escrita e a importância de espaços como a ACERT na promoção da arte e da ligação à comunidade.
Como foi iniciar o percurso musical? O que a levou a seguir esta carreira artística?
O meu percurso musical começou no dia em que comecei a ouvir música, como começa o de toda a gente. Muito daquilo que fui escutando ganhou um lugar na minha memória, lugar esse que viria a visitar quando passasse de esponja a executante. Os primeiros anos foram apenas isso: ser uma esponja. De música, ideias, entrevistas, artistas, músicos, mentores. Quando passei a executante é que as dúvidas apareceram. Começando de uma forma ingénua e criativa, cedo deparei-me com a incapacidade de falar a mesma língua que os meus músicos de referência. Daí para a frente veio o estudo, o instrumento, o curso de jazz e, acima de tudo, as canções. As canções levaram-me à carreira artística como sendo o caminho natural. Hoje olho para trás e vejo que fui uma sortuda em ver naturalidade nesse caminho pois fez com que me dedicasse ao mesmo desenfreadamente e sem medo de consequências.
Tendo em conta que o seu estilo musical mistura vários géneros, quais são as suas principais influências?
Cresci a ouvir a música comercial que passava na rádio, os meus pais não são músicos e a música aparecia nas mais banais formas do quotidiano. Stevie Wonder foi talvez a primeira referência que descobri sozinha e que mais explorei. Seguiram-se anos de procura e de fases passando por Miguel Araújo, Paul Simon, Luísa Sobral, Earth Wind and Fire, Samuel Úria, e tantas, mas tantas outras referências. O Jazz ganhou um lugar especial na altura em que lancei o meu 2º disco, mas também a Billie Eilish, a Lizzy Mcalpine, o Tim Bernardes, por exemplo. Acho que a miscelânea de tudo isso me impossibilita de encontrar principais influências.
Sendo que a sua música tem uma forte carga emocional, a escrita é uma grande parte do seu trabalho?
A escrita foi o começo da exploração da minha criatividade, creio. Comecei a escrever poemas aos 8, tenho dezenas de poemas até aos 12 anos onde começam a surgir textos em prosa. Só aos 15 me fez sentido unir de facto os dois elementos e começar a escrever canções. Levo muito a sério a lírica de uma canção pelo amor enorme que tenho à Língua.
Para si é importante que existam espaços como a ACERT, que têm no seu cunho a promoção de novos talentos e de ligação à comunidade?
Como em qualquer indústria, as modas tomam muitas vezes a maioria dos lugares, pelo que um espaço que introduz novos talentos e nomes àqueles que se predispõem a conhecer mais, é das coisas mais bonitas que podemos testemunhar. A ligação à comunidade é essencial para os artistas de forma a que possam crescer e ver o seu público crescer, sem pessoas não há música.
O que pode o público esperar do espetáculo na ACERT?
Essa é uma pergunta difícil, ainda mais porque vimos de uma fase de reconstrução. No entanto, asseguro que para além dos músicos extraordinários que levo comigo, levarei a história do disco Contornos tentando fazer chegar um abraço em forma de canções. Estamos com muita vontade de tocar e acredito que será uma noite especial.
Que conselhos daria a jovens artistas que estão agora a iniciar e procuram identidade no mundo da música?
A identidade constrói-se a partir da prática. Da prática surge o erro, do erro surgem decisões e dessas decisões nasce a identidade. E tudo isto leva tempo.