Encenar e ser encenado permitem duas visões muito diferentes (ainda que talvez complementares) do teatro?

No modelo mais tradicional/clássico da relação entre encenador e intérprete, é evidente a diferente visão que cada um dos intervenientes tem no processo de criação e execução do produto teatral. Hoje, devido à diversidade de abordagens e partilhas do ato criativo, a visão de cada um dos criadores, neste caso, atores/intérpretes e encenadores ou criadores teatrais, tendem a uma solução única do objeto teatral que se pretende fixar, dando assim, a meu ver, uma qualidade e uma coerência entre quem de fora observa, corrige, orienta e quem dentro, sugere, propõe, faz e vive o instante teatral.


Qual o papel do teatro universitário na formação de atores e outros profissionais do espetáculo? E na formação de público?

O papel do teatro universitário é não só fundamental como foi determinante (e saber-se-á mais tarde se ainda o é) para a evolução e riqueza da História do Teatro em Portugal, em particular na segunda metade do séc. XX. Basta citar exemplos como os grupos de teatro profissionais oriundos dessa corrente, como o Teatro da Comuna e o Teatro da Cornucópia. Nos 26 anos de atividade do Teatro da Academia do Instituto Politécnico de Viseu, muitos foram já os ex-TAS, que prosseguiram um trabalho profissional nas diversas áreas do espetáculo. Contudo, acredito ser na formação de públicos que a intervenção do teatro universitário é mais notória e optimizada, não só aos que praticam e o fazem, mas aos espectadores, alunos, professores e funcionários das respetivas Universidades e Politécnicos, que assistem e desfrutam dessas apresentações teatrais.

Para além do momento da representação, em que uma assembleia de atores e espectadores partilham um espaço e um tempo comuns, de que modo o teatro se pode encontrar com aquilo a que chamamos cidadania?

Porque se faz teatro? Para quê? Exorcismo? Exaltação? Ludicidade? Engodo? Manipulação? Conhecimento? Tantas questões que se podem levantar, aumentar, riscar, subverter, questionar… Mas uma ideia que me parece inquestionável é a necessidade/gozo/partilha, que o teatro tem na vida do Homem através dos tempos. O conceito de cidadania é muito mais novo na escala do tempo em relação às primeiras manifestações teatrais, onde o conceito da relação entre os homens não seria o que é hoje. O teatro sempre questionou o humano, sempre procurou a sua expressão e exposição. O teatro dos dias de hoje, as artes, refletem o humano nas sociedades, nos territórios, nas dúvidas, nas expectativas e nas suas fabulações de como ele se vê, de como ele age e interage com o mundo/meio que o rodeia. Acredito que a reflexão do que se viu, do que os artistas lhe deram a ver, irá certamente contribuir para uma vivência mais sabedora, pois a observação crítica de um espetáculo teatral vai de uma forma direta, muitas das vezes quase imperceptível, intervir no que eu designo de inteligência dramática.