Nós, a ACERT, a Liberdade e o 25 de Abril

O dia inicial inteiro e limpo1….

Haverá frase mais bonita para iniciar uma carta de amor?

Escrever sobre Abril em janeiro é sonhar com a conjugação no plural neste tempo de demasiados singulares. É sonhar com um futuro que nos permite construir colectivamente as soluções que pensamos juntos.

A ACERT permitiu-nos, permite-nos, que a partir de Abril cada janeiro, fevereiro, março, etc. sejam, já não espaços de sonhar com as “águas mil” da liberdade vindoura, mas sim de manter o sonho vivo. Um sonho colectivo de uma comunidade resistente ainda e sempre2, fazendo da sua capacidade colectiva a sua poção mágica. Uma ACERT que nos ensinou que para sermos cidadãos, na plenitude do termo, devemos começar por ter claro no nosso espírito que a nossa vida não é a nossa vidinha.3

Na ACERT, a sermos livres, foi o que aprendemos desde sempre!

Porquê? Porque pudemos! Porque tivemos essa oportunidade! Porque a ACERT era, é, um contexto em que liberdade não era um conceito mas uma prática diária. Essa prática não dependia, nem depende, do “diz-que-diz”, mas sim da aprendizagem permanente com o outro4 com quem se convive, sem esquecer, nunca, que o outro somos todos nós. Sem cânones nem balizas que não sejam a consciência e o contexto em que se desenvolve, numa lógica de responsabilidade para com a comunidade alargada de que somos parte integrante.

Aprender foi, é, outras das questões-chave na ACERT. Aprender sempre, duvidar sempre, questionar sempre…

Por isso a ACERT é um espaço de dúvida, porque só a dúvida permite a inovação e experimentação fundamentais para o crescimento. A dúvida associada à curiosidade e à ausência do medo do risco são motores para algumas das coisas mais inacreditáveis que fazemos.

Viver Abril na ACERT, É Viver!

Ainda, e sempre, acreditando que é possível construir a mudança. Que a luta é tudo o que temos, a luta por um modelo de sociedade mais justo, solidário, inclusivo, participado e consequentemente mais democrático.

Valorizando, como escreveu um de nós, o facto de VIVERMOS JUNTOS!

O que é que isto tem a ver com o 25 Abril? Tudo...

Miguel Torres, 25 de Janeiro de 2024



 


1 Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'O Nome das Coisas

2 Tal como aldeia dos irredutíveis gauleses de Asterix

3 Aguilera Klink – citação tirada de ENTRE A CIDADANIA E A "NOVA CULTURA DA ÁGUA" - DAS DIFICULDADES DE SE SER CIDADÃO – José Portela

4 “Um segundo eu”- crónica publicada no Jornal do Centro a 2 de Outubro de 2015