CONVERSA VAI, CONVERSA VEM | Maria Simões
UMANA, sem H (propositadamente), é a última criação da artista que esta temporada se apresenta na ACERT. Um espetáculo que contará com muitas gargalhadas, mas também reflexões acerca do tempo, a solidão e memórias.
No início dos anos 2000 Maria Simões deu início à sua viagem pela ACERT. Fez parte desta casa durante seis anos. Depois de partir, passou uma temporada nos Açores, fez voluntariado pelos Palhaços Sem Fronteiras na Síria e hoje encontra-se em Castelo de Vide. A partir de lá vai dividindo a sua atividade entre o clown social e o artístico.
UMANA, sem H (propositadamente), é a última criação da artista que esta temporada se apresenta na ACERT. Um espetáculo que contará com muitas gargalhadas, mas também reflexões acerca do tempo, a solidão e memórias.
Como começou a colaborar com a ACERT?
Cheguei à ACERT numa altura em que o Trigo Limpo estava a abrir um casting para a criação de um espetáculo rua e a fazer a contratação, na altura, de nove atores e atrizes. Penso que era a primeira vez que se fazia uma contratação de tanta gente e havia a intenção de aumentar a equipa.
Na altura estava a estudar em Coimbra e já tinha passado por algumas experiências de teatro profissional na faculdade e, portanto, fui concorrer a este casting com o espírito de “eu não quero ser atriz é só mais uma experiência”. Lembro-me perfeitamente que essa foi uma das frases que lhes disse no momento da entrevista... mas pronto, resultado: fui selecionada, fiz o espetáculo e muitas outras coisas nos primeiros seis meses de trabalho que tivemos lá. Depois, cinco de nós fomos convidados a continuar no Trigo Limpo e a partir daí, costumo dizer, a ACERT e o Trigo Limpo tornaram-se a minha escola. Uma escola de vida também, mas claramente a escola mãe no associativismo naquilo que é fazermos arte e cultura para transformar as comunidades onde nos inserimos e fazê-lo de maneira profissional.
Os cerca de seis anos que aí estive fiz parte da direção, fui coordenadora de produção e de programação dos festivais, espetáculos, toda a programação... fui atriz, formadora... portanto fiz realmente aquilo que se faz nesta casa e muito bem que é tocar todas as guitarras possíveis e fazê-lo da melhor forma que conseguimos. Portanto, essa escola é uma escola incrível.
Podemos dizer que o que viveu na ACERT influenciou o resto do seu percurso?
Claro que sim porque inclusivamente na minha saída houve uma intenção de eu criar o meu próprio projeto que tem imensas coisas que são inspiradas na ACERT. Ainda hoje é para mim uma referência e já passaram quase vinte anos desde que saí e o meu projeto de vida continua a ser a cultura, a criação, a dizer que sim a muitas coisas tal como acontece nessa casa. É uma casa de formigas que não pára.
Sinto-me claramente um espelho e um produto, no fundo, com uma semente que ganhei aí e que depois levei comigo na vida.
Que espetáculo vai trazer à ACERT?
Chama-se Umana, sem H propositadamente. Este é o segundo espetáculo de uma trilogia que nasceu com o Utopia, que também já esteve na ACERT, e que, no fundo, são espetáculos que escrevo. São espetáculos sem palavras, como se fosse um guião de cinema mudo.
Este espetáculo fala sobre humanidade mas, sobretudo, sobre a fase final e a velhice da vida. É uma palhaça que no dia do seu aniversário nos faz aperceber que não quer envelhecer, não quer fazer anos, nega esse dia... nesse negar recorda toda a sua vida. Tivemos uma passagem do tempo desde a sua infância até à idade a que chega hoje e que tem 70 anos. E no fundo é essa luta com a passagem do tempo e a sua inevitabilidade.
É bom voltar ao Novo Ciclo após estes anos todos? Como é o público e toda a comunidade?
Estive muitos anos sem voltar à ACERT e quando fui fazer o espetáculo da Utopia, há seis anos, foi um grande impacto em voltar a uma casa que é minha e ser tão bem recebida.
O público de Tondela é especial não só porque nasceu aí mas porque essa casa existe, faz uma programação regular incrível que poucos sítios deste país fazem há muitos anos... é uma prova viva de que investir na cultura e na cultura de continuidade vale mesmo a pena e transforma a comunidade.
Deixa-me muito feliz ser escolhida para essa programação, mas também com um grande sentido de responsabilidade. Especialmente por ter feito aí o espetáculo Utopia e este ser a continuidade. Tenho muita vontade que as pessoas que viram o anterior vejam este. É a cereja no topo do bolo. E ajudarem-me a criar o terceiro, porque não sei onde isto nos vai levar.